quinta-feira, 29 de abril de 2010


TIME AND A WORD - 1970-






O primeiro disco é sempre um desafio, enquanto o segundo é um desafio ainda maior, pois é a

confirmação do território conquistado ao mesmo tempo em que a espectativa do público cresce

em comparação com o trabalho anterior. O que restaria a fazer em seguida ? Um segundo e

importante passo teria que ser dado.


É sobretudo fulminante o impacto inicial em "No opportunity necessary, no experience needed"

e "Then". A orquestra é aplicada com cautela e como elemento de especulação a procura de uma

linguagem mais definitiva, mais própria. Por toda a obra podemos sentir o forte e definitivo prelúdio da ascenção do primeiro disco maduro que é o Yes-Album. Tudo agora é mais nítido

porque o gradual movimento evolutivo está efetivamente funcionando. Nascem, neste disco, o

binômio Squire-Bruford e a primeira e última experiência orquestral; também encontramos

elementos suficientes de composição que afirmam o início do rock-progressivo. No entanto, o

salto que separa o primeiro disco do segundo é bem considerável, mas, todos os novos acontecimentos não terminam aí. Podemos encontrar fragmentos de jazz-rock no arranjo "Everydays"; também nos deparamos com a última participação do guitarrista Peter Banks e percebemos uma maior participação de trechos exclusivamente instrumentais. Outro fator bastante importante é a clara afirmação do cantor-compositor Jon Anderson como o criador

número um do grupo. Este título de liderança pode ser notado não só pela qualidade, como também em termos de quantidade de obras criadas.


O vigor instrumental agora é bastante claro. As canções estão nutridas de maior maturidade, o requinte arquitetônico naquilo que tange a forma musical é um do pontos de maior relevância em Time And A Word. Este requinte arquitetônico é a manifestação dos primeiros e mais sólidos

passos do progressivo-rock. Estamos, então, no iluminado e poético ano de 1970, data de fundamental importância não só para o rock como para a música popular mundial pois foram os anos do rock progressivo.


Apesar de tudo isso, o Yes ainda procurava seu caminho, articulando seu destino e abrindo um

maior espaço. As canções que encantariam milhões de seres humanos por todo o mundo ainda estavam para serem escritas. A maior prova de tal fato é a gravação ao vivo do álbum triplo Yessongs (1973) que não contém uma só música dos dois primeiros discos.


A verdade é que os cinco rapazes batiam forte, pesado mesmo, e a prova de suas forças era a bem elaborada construção deste segundo trabalho. Tudo indicava que uma explosão de acontecimentos começava a ocorrer. Apesar de toda a forte personalidade de Time And A Word, os cinco músicos ainda estavam entre a canção de fácil refrão, no intuito de conseguir um efeito de rápida assimilação para, sob uma ótica bem provável, obter uma rápida popularidade ("Sweet Dreams" e "Time and a Word"), e as primeiras articulações do rock-progressivo ("The Prophet", "No experience needed", "Every Days" e "Astral Traveller"); já eram, porém, articulações bem mais expressivas do que no primeiro trabalho. Todavia, a canção "Then" (Anderson) deve ser vista como um intermediário entre estas duas posturas. Esta composição, típica criação melódica de Anderson do período ainda imaturo, tem elementos músicais que podem ser classificados como um trabalho pré-rock-progressivo. Sua seção inicial, que é cantada, contém desenhos melódicos claramente alusivos àquilo que já classificamos como o "refrão de fácil assimilação". Outro ponto inesquecível em Time And A Word, não só por sua

singularidade, mas também pelo seu encantamento, é a canção "Clear Days". Essa cativante obra que não tem o acompanhamento normal de um conjunto de rock, isto é, baixo, guitarra, bateria e etc. , consegue, apenas com um pequeno conjunto de cordas e um piano acústico, aliados a uma bela melodia, demonstrar a forte raiz lírica do talentoso Anderson.Trata-se de um acolhedor momento de simples e bela música.


A pretensão do sinfonismo neste segundo disco é bastante visível. Esta pretensão não apenas está nas canções acompanhadas pela orquestra; este sinfonismo, talvez não consciente, aparece, bastante evidenciado, em vários trechos das canções elaboradas e executadas apenas pelos cinco músicos, isto é, quando a orquestra está em total pausa. É bom deixar claro que não é um sinfonismo ao pé da letra. O que ocorre são evocações orquestrais, pinceladas que induzem o panorama auditivo para uma perspectiva orquestral. Os exemplos são fartos em todas as composições que têm acompanhamento orquestral. Para melhor classificação, citemos: 1) "No opportunity necessary, no experience needed" (Feldman), composição de Ritchie Havens; 2) "Then" (Anderson); 3) "Everydays" (Campbell-Connelly); 4) "The prophet" (Anderson-Squire);

e, por último, uma obra sem a participação da orquestra mas que pode ser classificada como tal:

É a canção "Astral Traveller" (Anderson).


Sim, é verdade. Time And A Word é um disco apaixonante. O único motivo de não podermos classificá-lo dentro do período de maturidade é o fato de Time And A Word não apresentar, ainda, a linguagem definitiva do grupo, ou seja, o forte estilo do Yes; caso contrário, essa primeira gesticulação do rock-progressivo poderia, de maneira bem acomodada, fazer parte da relação dos mais importantes discos do grupo. De qualquer forma, é um trabalho devastador em quase

todos os aspectos: Time And A Word é a latente e concreta prova de que o tempo somado ao talento torna-se o senhor absoluto da evolução.


Para melhor observarmos esse franco processo evolutivo, notemos todo o percurso do Yes-Album que vem a seguir.
Autor: Manoel Décio Estigarribia. Fone: (21) 8747-9760
Mais informações e outros textos sobre o Yes basta clicar em link abaixo:

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