sexta-feira, 30 de abril de 2010

YES ALBUM - 1971 -


YES ALBUM - 1971 -





SEGUNDA FASE





Essa música, que tanto sucesso fez nos anos 70, em verdade nunca foi uma música popular no

mais significativo sentido da palavra. Ela está longe disto. Seu elitismo foi devido ao comportamento inovador dentro da linguagem do rock. Para inovar foi preciso buscar influência nas partituras da música ocidental do passado. Rrfiro-me à música erudita. A música erudita foi um real estímulo, e todos os mais importantes grupos do rock-progressivo devem muito a ela. Encontramos a viva demonstração disto na música produzida pelo Genesis, King Crimson, Gentle Giant, Jethro Tull, Emerson, Lake & Palmer e os italianos do Premiata Forneria Marconi, entre outros. O rock, que é um gênero musical de natureza tão simples, obteve sua renovação naquilo que é a antítese da simplificação, isto é, a música erudita. Nada poderia ser mais paradoxal; ao mesmo tempo, a fonte da renovação não poderia ser melhor. Esta unificação de popular mais erudito foi, como continua sendo, uma admirável receita não só para o rock, mas também para a música popular em geral. É no Yes-Album que essa influência desponta com um vigor bem transparente.


Escrever sobre estes cinco rapazes daqui para a frente não será "café pequeno". O disco agora analisado - o primeiro e importante trabalho da segunda fase - é fundamental e de nítida maturidade, real princípio de todo o período maduro, e, sem dúvida alguma, o trabalho base para o Yes chegar ao vigor de um Fragile, Close To The Edge, Tales From Topographic Oceans e Relayer. Como uma escalada predestinada, o Yes-Album é o terceiro e difinitivo passo para o prelúdio da grande vitória. O primeiro trabalho maduro foi bem no alvo. O Yes-Album venceu a dura escalada, e venceu tranquilo. Aqui estes cinco britânicos encontram, pela primeira vez, sua linguagem real, sólida e possante; sua robusta história começa a partir de agora.


Como um abalo cósmico, o trabalho ganhou os corações e mentes da juventude do princípio dos anos 70. Tudo, neste disco de apenas cinco canções e uma obra instrumental, é de excepcional qualidade. O forte estilo e a novidade no tocante à estrutura das formas deram um status de real liderança ao grupo. As composições agora têm formas mais sólidas. Esse simples fato iniciado em Time And A Word e desenvolvido aqui dá ao ouvinte uma maior percepção do fenômeno musical. Algo verdadeiramente novo começava a acontecer no panorama da música popular pois o gigantesco talento do grupo já podia ser notado.


Os cinco rapazes eram vistos como um singular acontecimento na música popular mundial.

E realmente o eram. Outro fator interessante era a postura de equilíbrio pessoal dos músicos:

vegetarianos, francamente polidos, virtuosos e inteligentes, artistas populares bem acima da média. Eram todos músicos consistentes, equilibrados, como gesticulações de palco nada apelativas, naturalmente sóbrios. Eram aquilo que podemos classificar como os bons meninos britânicos do início dos anos 70. Esta posição otimista diante da vida e diante da música pode, até certo ponto, ser vista como uma postura pós-Beatles ou neo-Beatles.


Afinal de contas, o Yes-Album agora era uma realidade inquestionável por todo o planeta. Suas quatro canções de impacto faziam parte da paisagem musical do mundo.


Então, por que não comentá-las ?


"Yours is no disgrace": Composição que tem como motivo maior de persuasão sua bem realizada estutura formal e sua força instrumental aliada ao impacto no tocante ao desenvolvimento. Essa obra mostra-se, em toda sua estrutura, com uma arquitetura muito bem trabalhada, claro expoente de uma inteligência musical acima da média, peça rara diante das composições da época. Verdadiera demonstração de um requinte intelectual dentro da música de rock, ela é composta incluindo valores musicais como introdução, variações, desenvolvimento, aumento e diminuição, reprise textual e claras seções de um moderado improviso; mostra de que os cinco rapazes eram determinados e sabiam o que estavam fazendo. Em resumo, é sua foça formal aliada a um bem estruturado desenvolvimento que mais chamam a atenção do ouvinte, e não, como muito podem pensar, a simples criação de uma bela melodia. Trata-se da mais bem realizada obra no campo da forma de todo o Yes-Album.


"I`ve seen all good people": Criação melódica nascida do gênio de Anderson, nada mais que uma vachalia (antigo instrumento musical de cordas dedilhadas), simples percussão e flauta doce. Essa canção de comunicação e encantamento imediato (principalmente a seção de título "Your move"), por sua simplicidade formal, é uma nítida antítese de toda a estrutura composicional de "Yours is no disgrace".


"Starship Trooper": Seduz o ouvinte pelo seu caráter múltiplo bastante característico, que são as seguintes seções: a) "Life seeker" (Anderson); b) "Disillusion" (Squire); c) "Wurm" (Howe). Sua colocação na terceira faixa do Lado A não foi por simples acaso, pois

"Starship trooper" não tem o impacto formal e instrumental de "Yours is no disgrace", nem tampouco a espontaneidade, o frescor e o encantamento imediatista de "Your move"; ainda assim, é uma peça de importância.


"Perpetual change": Impressiona, a princípio, por sua tão característica introdução, que mais

parece um gran-tutti orquestral. Trata-se, a rigor, de uma composição muito bem trabalhada que conquista mais pelo todo de sua feitura do que propriamente por trechos ou passagens geniais. É um dos grandes momentos do Yes-Album.


Mas a história deste disco não termina aí. Vejamos: Logo de início o trabalho abre com sete acontecimentos que marcariam toda a história do grupo. Primeiro: A participação do homem guitarra Steve Howe. Segundo: A criação coletiva. Terceiro: A composição de longo fêlego. Quarto: As canções agora são compostas em seções. Quinto: A exploração da polifonia vocal.

Sexto: É no Yes-Album que o grupo experimenta pela primeira vez uma mudança em sua formação. Fato na verdade banal, porém, esta atitude de troca-troca de músicos em seus quadros toma proporções bem mais profundas do que uma simples modificação do personagem A pelo personagem B. Sétimo: A exploração de uma composição integralmente instrumental. Para melhor análise, vejamos ponto a ponto estes sete itens.


Primeiro: Steve Howe demonstra sua qualidade como o guitarrista de maior envergadura que apareceu em toda a discofrafia do grupo. Logo em "Yours is no disgrace" o ouvinte percebe que sua guitarra é capaz de vôos nunca antes alcançados; no entanto, é em "The clap", esta bem humorada pela para violão solo, que o ouvinte mais pode admirar o virtuosismo e a capacidade melódica do talentoso Howe. Também é bom não esquecer a participação de Howe como compositor, que, em tese, foi importante para o vigor do Yes-Album. Das seis obras de todo o trabalho, ele esta incluído em três: "Yours is no disgrace" (Anderson-Squire-Bruford-Howe-Kaye), "The clap" (Howe) e "Starship trooper" (Anderson-Squire-Howe).


Segundo: Quanto à criação coletiva, "Yours is no disgrace" é o primeiro trabalho de composição em grupo que o quinteto assinou. Esta atitude de socialização composicional teria seu auge no Tales From Topographic Oceans e no Relayer.


Terceiro: Sobre as composições de ampla duração, "Yours is no disgrace", "Starship trooper", "Perpetual change" e, em um grau mais moderado, "I´ve seen all good people" são obras que marcam o primeiro e mais importante passo para essa tendência tão comum no rock-progressivo. "Your is no disgrace" foi a obra de maior fôlego criada em todo o Yes-Album. Sua duração é de nove minutos e trinta e seis segundos, uma simplória bagatela em comparação com o gigantismo que seria alcançado no Tales From Topographic Oceans.


Quarto: As canções agora são compostas em seções. Exemplo bem claro encontramos em "Starship troper": a) "Life seeker" (Anderson); b) "Disillusion" (Squire); c) "Wurm" (Howe). Um outro exemplo que não tem a mesma precisão mas, sem a menor dúvida, pode ser incluído como tal é "I`ve seen all good people". A seção "Your move" (Anderson) é a mais importante e a de maior força de comunicação e penetração na sensibilidade do ouvinte. "All good people"(Squire) conclui a peça com um interessante refrão.



Quinto: Essa primeira preocupação com uma mais profunda exploração vocal de raiz polifônica é vista inicialmente no Yes-Album. O efeito em "I`ve seen all good people" e em

"Starship trooper" é por demais acolhedor, e o Yes tem total consciência disto. O segundo passo dentro desta tendência é a canção "We have heaven" de Anderson (Fragile). De tempo em tempo o quinteto usaria deste inteligente recurso para melhor seduzir o ouvinte e conseguir resultados favoráveis. Em 1983, no 90125, essa tendência reaparece na brilhante "Leave it" (Squire-Rabin-Horn), e no Big Generator (1987) em "Rhythm of love" (Kaye-Rabin-Anderson-Squire) e na introdução de "Big generator" (Kaye-Rabin-Anderson-Squire-White). Quatro anos após este último, vamos encontrar mais uma vez essa mesma tendência sendo exposta na expressiva "Silent talking" (Anderson-Howe-Wakeman-Bruford-Elias). O disco agora é o Union, de 1991.


Sexto: 1 formação (junho de 1969 a janeiro de 1970) - Peter Banks (guitarra), Tony Kaye (órgão), Bill Bruford (bateria), Chris Squire (baixo), Jon Anderson (vocal). Discos gravados: Yes e Time And A Word.


2 formação (março de 1970 a agosto de 1971) Tony Kaye (teclados), Bill Bruford (bateria),

Chris Squire (baixo), Steve Howe (guitarra), Jon Anderson (vocal). Disco gravado: Yes-Album.


3 formação (agosto de 1971 a julho de 1972) - Rick Wakeman (teclados), Chris Squire (baixo), Steve Howe (guitarra), Jon Anderson (vocal), Bill Bruford (bateria). Discos gravados: Fragile e Close to The Edge.


4 formação (agosto de 1972 a maio de 1974) - Rick Wakeman (teclados), Chris Squire (baixo), Steve Howe (guitarra), Alan White (bateria), Jon Anderson (vocal). Discos gravados: Yessongs e Tales From Topographic Oceans.


5 formação (agosto de 1974 a novembro de 1976) - Jon Anderson (vocal), Chris Squire (baixo),Steve Howe (guitarra), Alan White (bateria), Patrick Moraz (teclados). Discos gravados: Relayer e Yesterdays (coletânea).


6 formação (novembro de 1976 a fevereiro de 1980) - Jon Anderson (vocal), Chris Squire (baixo), Steve Howe (guitarra), Alan White (bateria), Rick Wakeman (teclados). Discos gravados: Going For The One e Tormato.


7 formação (março a dezembro de 1980) - Chris Squire (baixo), Steve Howe (guitarra), Alan White (bateria), Geoff Downes (teclados), Trevor Horn (vocal). Disco gravado: Drama.


8 formação (junho de 1983 a setembro de 1988) - Jon Anderson (vocal), Chris Squire (baixo),

Alan White (bateria), Tony Kaye (teclados), Trevor Rabin (guitarra e vocal). Discos gravados: 90125 e Big Generator.


9 formação (1991) - Jon Anderson (vocal), Chris Squire (baixo), Bill Bruford (bateria), Rick Wakeman (teclados), Trevor Rabin (guitarra), Alan White (bateria), Tony Kaye (teclados),

Steve Howe (guitarra). Disco gravado: Union.


10 formação (1994) - Jon Anderson (vocal), Trevor Rabin (guitarras, teclados e vocal), Chris Squire (baixo e vocal), Tony Kaye (órgão) e Alan White (bateria). Disco gravado: Talk.


A farta relação exposta acima é uma mostra do comportamento inquieto que reinou por todo o grupo. O que muita gente pode não saber é que o Yes, atrás de sua postura sóbria, coerente e de boa conduta, é um grupo que sempre brigou muito, pois não são poucas as hostilidades entre Anerson, Squire, Wakeman, Moraz, etc. Algumas dessas brigas podem ser vistas em determinadas passagens da história do grupo, como na saída de Peter Banks, acusado de preocupar-se mais com suas roupas do que com a música produzida pelo grupo. Outro ponto de atrito foi quando, em 1975, Wakeman, já fora do grupo, se apresentou no Brasil e fulminou a seguinte frase: "A música do Yes era para velhinhas que fazem tricô". Por outro lado, Anderson contraponteou dezendo que Wakeman "devia estar bêbado quando disse isso. Rick bebia demais nessa época, e sempre vinha falar mal de nós neste estado". As pancadas não

param por aí, e, quando tudo parece estar em perfeita paz celestial, mais uma confusão vem

à tona. O caso agora é a briga em torno da marca "Yes". Chris Squire não deixou Anderson, Bruford, Howe e Wakeman usarem o logotipo "Yes". A confusão, mais uma vez, estava literalmente montada. Anderson diz que "estava muito difícil e estranho conviver e fazer turnês com Chris. Por isso, era frustante ter que aguentar Chris e Trevor Rabin querendo fazer hit singles, aquela musiquinha fácil que se faz em Los Angeles". Quando o disco Anderson, Bruford, Howe & Wakeman foi gravado, Anderson afirmou que "Squire, bêbado lhe xingou de coisas incríveis". De qualquer forma, é Anderson que admite e diz que "Chris é poderoso, mas muito problemático. Prefiro estar cercado de cavalheiros".


Outro caso bastante polêmico foi a saída de Patrick Moraz. Wakeman tem sua versão e Moraz tem a dele. O fato é curioso; vejamos. Segundo o repórter Belly Altman, do jornal Rolling Stone, exclusivo para O Globo de quinta-feira, 13-10-77, a história tem o seguinte enredo: "Quando estava considerando a possibilidade de gravar outro álbum individual" e fazer talvez allguns concertos de vez em quando, "Wakeman soube, através de Brian Lane,

seu empresário e do Yes, que Patrick Moraz estava para sair do grupo às vésperas da

gravação de um novo LP, Wakeman correu para a Suíça, onde o Yes ensaiava e gravava,

e se ofereceu para trabalhar como músico de estúdio, em regime de colaboração. Quando ouviu algumas amostras das novas canções, ficou inteiramente surpreso.


É um absurdo. Aquele era o Yes que eu sempre imaginei.


Um pouco depois, numa festa, Chris Squire o convidou para ficar com a banda em caráter

permanente. Wakeman foi a Londres, fez as malas correndo, e voltou a toda para a Suíça.


(N.T. Patrick Moraz, o substituído, conta uma história diferente: Segundo ele, a volta de

Wakeman foi cuidadosamente preparada por Brian Lane, que estava preocupado com os

prejuízos que a carreira solo do tecladista vinha sofrendo; Lane teria contato, também,

com o apoio do próprio Yes, que se sentia incomodado com as interferências de Moraz na

criação musical do grupo e pressionado pela força da imprensa inglesa, sempre mais

simpática a um conterrâneo que a um estrangeiro como Patrick, de nacionalidade suíça)."


É fácil notar que a versão de Moraz tem um claro sentido de conspiração.


Seria tedioso continuar expondo essa série de acontecimentos desagradáveis. Como o próprio

Jon Anderson certa vez falou, a causa de tanta briga é "provavelmente porque somos de

lugares diferentes da Inglaterra. Se todos viessem de Manchester, por exemplo, isso não

aconteceria". E Anderson termina elegantemente dizendo que o "jeito é desejar amor para todos". E asim é o YES.


Sétimo: Essa tendência de criar peças integralmente instrumentais teve início com Steve

Howe na composição "The clap" (violão solo). No Fragile essa tendência encontraria seu

ponto máximo, pois Howe apresentou ao mundo sua melódica "Mood for a day" (violão solo).

Squire não deixou por menos e criou "The fish". O baterista Bruford atacou com sua micro

e original obra que é "Five per cent for nothing". E, para finalizar, o estreante Wakeman

entrava na ficha técnica do Fragile assinando o arranjo "Cans and Brahms". O que fora

iniciado por Howe no terceiro disco agora quadruplicava no quarto. Depois deste verdadeiro

show de solos instrumentais, esse mesmo comportamento reapareceria no disco 90125 de

1983 na curiosa obra de nome "Cinema" ( Squire-Rabin-White-Kaye). Depois disto vamos

encontrar esse comportamento no Union, nas obras "Masquerade" (Steve-Howe) e

"Evensong" (Bruford-Tony Levin); em 1994, o Yes dispara a bem elaborada

"Silent Spring", com apenas um minuto e cinquenta e seis segundos de duração.


O Yes-Album foi o primeiro disco constituído apenas de obras dos componentes da banda

e também o primeiro trabalho com o produtor Eddie Offord. O sucesso da canção

"Your move", que também foi gravada em compacto, dominou o mundo e abriu as portas

para o Yes.




Trecho do livro "YES - Uma Rara Música de Quinteto". Autor: Manoel Décio Estigarribia.


Fone: (21) 8747-9760


Mais sobre o livro no link abaixo:













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