quinta-feira, 29 de abril de 2010

YES UMA RARA MÚSICA DE QUINTETO EM LIVRO


trechos do livro "YES - Uma Rara Música de Quinteto" com 208 páginas.



PRIMEIRA FASE



YES (1969)



Estamos em junho de 1968, data de nascimento do Yes e também de uma série de acontecimentos que marcaram a história da década de 60, principalmente quanto aos Estados Unidos da América do Norte que continuava mandando os seus meninos para a barbárie do sudeste asiático, no Vietnã, onde 50 mil deles seriam sugados pela morte. As universidades americanas explodiam contra o banho de sangue. Oposto à violência, a anti-cultura estava no ápice de sua força e os saudosos hippies agitavam prazerosamente suas bandeiras e pregavam "faça amor e não a guerra". Um grande homem chamado Martin Luther King foi assassinado em Memphis, em 4 de abril de 1968, e o congresso dos Estados Unidos instituiu, em 1986, um feriado nacional em sua honra. O trecho dos discurso se tornou um símbolo da liberdade. Assim falou Luther King: "Eu tenho um sonho (...) que meus filhos possam viver um dia numa nação em que não sejam julgados pela cor da pele, mas sim por sua maneira de ser". A luta entre brancos e negros na América do Norte tornava-se cada vez mais complexa após a morte do grande homem Luther King. Os tanques da União Soviética invadiam covardemente a pequena Tchecoslováquia e a primavera de Praga tornava-se um símbolo mundial de liberdade.


Aqui no Brasil os estudantes protestavam contra a ditadura militar, e no Rio de Janeiro, com a morte do estudante Edson Luís, uma grande revolta desencadeou uma passeata com aproximadamente 100 mil pessoas ! Os nervos da nação estavam em chamas. O terrível 13 de dezembro de 1968 marcou nossa história com a aparição do abominável AI-5. Resultado: O congresso é fechado, a imprensa é censurada e as garantias constitucionais sãos suspensas. Ainda no Brasil, Consuelo de Castro escreve a peça "Prova de Fogo" em 1968, que só foi encenada em 1993 em São Paulo. "Prova de Fogo" é uma breve viagem no tempo onde encontramos expressões como "imperialismo", "luta contra a ditadura", "Che Guevara", "Fidel Castro" e "Marcuse". Na Índia, no México, na Inglaterra, na Alemanha e no vizinho Uruguai, a juventude se manifesta exigindo liberdade e melhores oportunidades. Em maio de 1968, os jovens de Paris cantavam o seu grito de "liberdade ! liberdade!". O histórico protesto no Quartin Latin é transformado em praça de batalha. A França, e principalmente Paris, pode ser vista como o termômetro político da juventude do ano de 1968. Os slogans deste conturbado ano são os seguintes: "É proibido proibir"; "A imaginação no poder"; "Queremos tudo e tudo imediatamente"; "Deus está morto, Marx está morto, eu não me sinto bem"; "Somos todos judeus alemães"; "Seja realista, peça o impossível". Segundo Alain Krivine (um dos poucos líderes de maio de 1968 que ainda continua pensando da mesma forma), "o declínio da esquerda tradicional começou em 68. Foi lá que, pela primeira vez, ela foi questionada seriamente. houve uma profunda mudança na correlação de forças na esquerda. o Partido Comunista perdeu popularidade e o Partido Socialista cresceu".


Foi exatamente no meio desse ano de tantas transformações que o Yes nasceu. O panorama musical da época não ficava por menos; o rock estava em seu grande momento pois o movimento progressivo, que na época estava apenas surgindo, já podia ser sentido. Era como um fresco odor de perfume no ar. Todavia, existiam outras importantes correntes, e dentre elas estava o hard-rock. Foi em 1968 que o Led Zeppelin gravou seu primeiro disco, de nome Led Zeppelin I, e o Deep Purple assinou o trabalho "Shades Of Deep Purple". A dupla Simon and Garfunkel mostrou para o mundo canções como "Scarborough fair" e "Mrs. Robinson".

O Rolling Stones gravou o expressivo "Beggar`s Banquet. O guitarrista Jeff Beck gravou

o álbum "Thruth". Em 1968, a ópera rock Tommy (The Who) explodiu com fulminante sucesso por toda a Europa e o gênio responsável por tudo isso era o jovem Peter Townshend, que na época tinha apenas 23 anos de idade. Tommy estreou no Coliseum de Londres e em 1969 entrou em temporada no Metropolitam Opera House de Nova York, e depois, ainda no ano de

1969, fez sucesso também no Festival de Woodstock. Tommy foi um sucesso jamais repetido

pelo Who. Também foi em 1968 que a peça Hair, de Gerome Ragni e Jamers Rago, com música de Galt McDermot, teve sua noite de estréia num pequeno teatro no Village, em Nova York. Depois de um curto período, Hair vai para a Broadway e rapidamente vira um sucesso mundial. Um ano depois (1969), Hair recebe uma versão brasileira. Em 1979, Milos Forman transforma a peça em filme, e em 19 de novembro de 1993 estréia pela quarta vez em São Paulo.


Continuando a relação, vemos o Pink Floyd lançar o Saucerful Of Secret e a cantora Janis Joplim (1943-1970) gravar, no auditório Filmore, em São Francisco, o seu álbum ao vivo Cheap Thrills. E, para terminar, os Beatles, já um tanto cansados do sucesso, lançaram o álbum duplo The Beatles que é mais conhecido como Álbum Branco.


Tudo isso aconteceu em 1968. Realmente foi um grande momento; Londres era o centro

nervoso e intelectual do rock em todo o planeta. A velha e charmosa Londres cheirava a música, e o Yes nesta época começava a trilhar sua aventura musical.


Nossa história começa com o encontro de Jon Anderson e Chris Squire no bar londrino Club La Chasse. Estamos, então, em uma fria noite no ano de 1968. Squire foi apresentado a Anderson por Jack Barrie, que, naquela época, era dono do clube e também um modesto empresário de bandas em início de carreira. Anderson e Squire se olharam e começaram uma conversa que somente terminou no dia seguinte no apartamento de Chris. Ainda na mesma noite, Jon e Chris, acompanhados de dois violões, começaram a compor algumas canções. A ideia inicial era fazer um grupo com muita música vocal, o que não era muito explorado na época. Deste mágico encontro nasceu a ideia de Anderson tomar parte do frágil Toy Shop, que durou apenas de janeiro a junho de 1968. A formação do Toy Shop era Jon Anderson (voz), Peter Banks (guitarra), Chris Squire (baixo), Clive Bailey (guitarra) e John Cymbal (bateria). Porém, o grande acontecimento, o nascimento do Yess, ocorreu ainda em junho de 1968. Em verdade, o Yes foi o que sobrou do espectral Toy Shop acrescido do organista Tony Kaye, indicado por Peter Banks, além da participação de um estudante de arquitetura de sobrenome Bruford. Eis a primeira formação do Yes; eis o Yes que por um golpe de sorte ( ou destino) abriu o concerto do poderoso Cream de Clapton, Bruce e Baker. Em dezembro de 1968 o quinteto seria posto a toda prova, pois o concerto de despedida do Cream foi no Albert Hall de Londres e a numerosa platéia era a mais exigente que o ainda desconhecido Yes tinha visto em sua frente. O momento, certamente, era de tensão. O Yes passou vitorioso no teste. Após o concerto, Anderson ou Squire (não se sabe ao certo quem) afirmou: "Nós ficamos convencidos que 69 seria o nosso grande ano". Foi o ano do primeiro disco. Foi o ano do grande início. Foi o primeiro passo para uma história de sucesso aliada a um alto nível instrumental e, o que é mais raro, um alto nível em termo de criação.


No ano de 1969, o Yes nascia para o primeiro disco e começava a dar e impor seus primeiros passos. Um mundo de glórias esperava esses cinco garotos que, em tão pouco tempo, apresentavam sinais de maturidade musical acima da média para um grupo tão jovem e com um breve período de existência. A força instransponível de um raro destino impulsionava estes cinco personagens para o sucesso. Este primeiro disco, apesar da pouca experiência, é de importância substancial para analisarmos o fenômeno da rápida evolução.


Aqui encontramos o início de tudo, todos marinheiros de primeira viagem oceânica. Neste disco de estréia, temos fragmentos da música de Bach, arranjos de canções de Moguim e Crosby e Lennon e McCartney, improvisações jazzísticas e também baladas de tonalidade ingênua e juvenil. Nesta estréia, deparamo-nos com um Yes ainda cheirando a leite e, de maneira ainda um tanto tímida, experimentando. A juventude fluía delicada e talentosa. Mal poderiam imaginar que um destino de vitórias estava para acontecer.


O disco abre com a parceria Squire e Bailey (antigo Toy Shop) com a canção "Beyond and before". Logo de início, é visível a preocupação com a estrutura da composição; a estilística do grupo é apresentada, embora ainda timidamente. Em "I see you" (Moguim-Crosby), o quinteto é visto fazendo arranjos de música de compositores não pertencentes ao grupo (poucas vezes o conjunto prestou-se a este tipo de trabalho). O disco também nos traz uma canção de suavidade ímpar, "Yesterday and today" (Anderson). Nesta breve canção, sentimos, com nitidez, o poder da inteligência melódica de Jon Anderson. Tudo se resume na mais simples melodia. A parte instrumental é bem discreta. Trata-se, a rigor, de uma canção de inspiração bastante espontânea.


Em essência, a preocupação do trabalho está centralizada na criação de sedutoras melodias e nada mais. Todas as oito canções demonstram isto; porém, não existe ainda uma madura consciência sobre o rock-progressivo e sua importância para a história da música popular. O que encontramos são fragmentos, ainda bastante elementares, do novo-rock que estava para surgir em grandes proporções. A composição "Survival", com sua singular introdução com mais de dois minutos, é uma boa demonstração disso.


Yes, os disco, como primeiro trabalho, merece atenção. O quinteto preludiou sua discografia com um disco (apesar de simples) sincero e de forte musicalidade natural. O primeiro passo estava dado. O Yes finalmente nascia para a Londres do final dos anos 60. Como tudo isso não bastasse, este trabalho também deu ao grupo, junto com o Led Zeppelin, o título da banda mais promissora de 69, e a revista que classificou o conjunto como tal foi a Melody Maker.




Contato com o autor: (21) 7960-4570 ou pelo link abaixo:







Atenciosamente, o autor.

2 comentários:

  1. Parabéns Manoel pela arte de seu trabalho, pelo belo livro. Um prazer lê-lo e aprender consigo. Um grande abraço, Lilian

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  2. Parabens Manoel. Eu ouço Yes desde antes de estudar música, e quanto eu mais estudo, mais eu aprecio a música do Yes. Close to the Edge, Fragile, Tales, Relayer e o Going for the One são obras primas!

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